ATA DA TRIGÉSIMA SEXTA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 04-11-2003.

 


Aos quatro dias do mês de novembro de dois mil e três, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e quinze minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao ator José Victor Cibelli Castiel, nos termos do Projeto de Resolução n° 081/03 (Processo n° 4406/03), de autoria da Vereadora Maristela Maffei. Compuseram a MESA: o Vereador João Antonio Dib, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Geraldo Stédile, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; o Senhor José Victor Cibelli Castiel, Homenageado; o menino João Victor Castiel, filho do Homenageado; a Vereadora Maristela Maffei, na ocasião, Secretária “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Vereadora Maristela Maffei, em nome da Bancada do PP, apontando dificuldades no exercício de atividades ligadas à cultura, mencionou os vínculos existentes entre o Homenageado e a Cidade, salientando o fato de o ator ter optado por residir em Porto Alegre, apesar de desenvolver trabalhos por longos períodos no centro do País. Na ocasião, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao ator Oscar Simch, que manifestou-se acerca da presente homenagem. Em prosseguimento, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome da Bancada do PDT, esclarecendo a importância da concessão do Título Honorífico de Cidadão Emérito, destacou aspectos em comum existentes entre Sua Excelência e o Homenageado, como a origem judaica de ambos, e referiu-se ao reconhecimento, em nível nacional, do trabalho desempenhado pelo Senhor José Victor Cibelli Castiel como ator. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, traçou um comparativo entre a ritualística da carreira de ator e a linguagem gestual envolvida nas atividades políticas. Também, discorreu sobre passagens da vida do Homenageado, lembrando sua estréia no teatro e as recentes interpretações em novelas da Rede Globo de Televisão. A Vereadora Margarete Moraes, em nome da Bancada do PT, pronunciou-se a respeito das aptidões necessárias à profissão de ator e a importância da dramaturgia na cultura de uma sociedade. Ainda, enfocou trechos da trajetória profissional do Senhor José Victor Cibelli Castiel e examinou o trabalho do Homenageado em prol do engrandecimento das artes no Rio Grande do Sul. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, parabenizando a Vereadora Maristela Maffei pela propositura da presente Sessão Solene, expressou seu reconhecimento pela capacidade de trabalho desenvolvida pelo Homenageado e comentou possuir em comum com o Senhor José Victor Cibelli Castiel a carreira de advogado, desempenhada por ambos durante momentos de suas vidas. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou a Vereadora Maristela Maffei, a Senhora Cecy Castiel, esposa do Homenageado, e os filhos Alice e João Pedro Castiel a procederem à entrega do Diploma referente ao Título de Cidadão Emérito ao Senhor José Victor Cibelli Castiel, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e vinte e três minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador João Antonio Dib e secretariados pela Vereadora Maristela Maffei, como Secretária “ad hoc”. Do que eu, Maristela Maffei, Secretária “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada à outorga do Título de Cidadão Emérito de Porto Alegre ao Sr. Victor José Cibelli Castiel. José Victor Castiel para todos que gostam dele. E eu também. Compõem a Mesa: o Sr. Victor Castiel, nosso homenageado; o Dr. Geraldo Stédile, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários. E logo após a cerimônia, asseguro que vai fazer uma ficha para que o José Victor, que gosta muito de Porto Alegre, não sai desta Cidade de jeito nenhum, e que também faça parte do Conselho de Cidadãos Honorários.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Ouve-se o Hino Nacional.)

 

A Mesa vai fazer um convite todo especial ao João Victor, para que ele venha fazer parte da Mesa. João Victor, neto de um amigo meu, filho do nosso homenageado, e que vai saber que é importante ser dedicado, estudioso e se preocupar com a nossa Cidade. Talvez, um dia, o João Victor esteja sentado aqui recebendo uma homenagem da Câmara Municipal, como está fazendo, agora, a Ver.ª Maristela Maffei, para o papai Zé Victor Castiel. Bem-vindo, João Victor!

A Ver.ª Maristela Maffei, proponente da homenagem aprovada por unanimidade pela Casa do Povo de Porto Alegre, está com a palavra e falará também em nome do Partido Progressista.

 

A SRA. MARISTELA MAFFEI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Sras. Vereadoras. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Queria dizer que me sinto muito honrada em prestar esta homenagem. João Victor, este é um momento no qual não é preciso ter ciúmes do papai, porque é um amor que transcende. Muitos de nós não o conhecíamos pessoalmente, mas o conhecemos pela vida, pela arte, pelo cotidiano, não apenas de Porto Alegre, mas porque faz parte da relação do nosso dia-a-dia.

Eu não poderia deixar de compartilhar este momento, Sr. Presidente, com uma pessoa que ajudou a idealizá-lo, e essa pessoa é a Cecy, que trabalha no meu gabinete. Quando pensamos em fazer homenagens, com certeza, fazemos para pessoas que representam, tocam e calam muito fundo na nossa vida.

E foi dessa forma que construímos esta homenagem, e a Cecy tem muito a ver com este momento, e eu não poderia deixar de citá-la.

Zé, posso te chamar assim? É o nosso Zé, o Zé Victor que tem um amor muito especial por esta Cidade. É como uma atração. É uma atração por esta terra, terra com corpo e alma. Porto Alegre foi uma escolha por amor. Sem forma visível, que entra pelos sentidos e nós, portanto, temos certeza que é um modo de vida, é uma escolha. Uma arte de viver, uma forma de viver, diante de uma ética, uma estética e uma etiqueta. O Zé viaja muito; ele vai, ele voa, mas ele volta. Esse modo de ser do Zé Victor não está ao alcance de todos. É um saber, é uma prática. É o privilégio do que poderia se chamar uma aristocracia, mas uma aristocracia do coração, fundada em qualidades do espírito e com o saber do sentido dos iluminados. Eu sei, e tu também sabes que isso não é uma mera propaganda, mas é dessa forma que a gente te sente, pela luz da tua alma. E para o Zé Victor estar fazendo o que ele faz é proclamar a liberdade. A liberdade do sentido, a liberdade do entender e do ser; tanto é que o Zé sempre vai e volta para nós, e nós sabemos que há muita gente, principalmente hoje em dia, construída e fabricada como se fosse clonagem, mas tu, Zé, não! Porque tu és essência. É a nossa essência, e é por isso que nós te amamos. É por isso que este momento de tanta simplicidade, mas tão verdadeiro, é quase que sagrado. Sabe aquelas coisas antropológicas? Para nós é o contrário; tu não estás lá, tu estás lá, sim, no nosso coração, mas tu sempre estás aqui. Não faz diferença entre tu estar no trono, e o público estar aqui. Hoje tu és nosso espectador, e aí nós queremos mexer com a tua alma, porque tu vais assistir, no palco da vida, aquilo que tu sempre representastes, que tu calas fundo no nosso coração. Hoje a gente vai mexer contigo. E quando tu dizias, quando chegavas aqui, que estavas nervoso, nós acreditamos, porque, com certeza, nesse conjunto de pessoas que aqui estão, são pessoas que te amam demais. E é preciso, Zé Victor, muita magia para pensar, anos e anos, trabalhando 24 horas por dia.

É preciso uma tremenda magia para se manter centrado, bem quando nós soubemos na economia, o primeiro corte: cultura. Mas o Zé fica ali resistente. Antes mesmo do Fórum Social Mundial, porque não é mais Paris, não é mais Buenos Aires, agora é Porto Alegre. Mas, com certeza, Zé, antes mesmo do Fórum Social Mundial, tu já ajudavas a construir essa cena, porque lá naquele verão, quando todo mundo foge para a praia, vão para outros países, tu estavas aqui, lutando pela cultura, lutando por esse momento, no forte calor do verão alegre de Porto Alegre, construindo e fazendo 40 mil pessoas passarem por dentro da cultura, por dentro da vida. E não apenas em palcos fechados, mas para aquelas pessoas mais simples também. É isso que eu admiro em ti, Zé, e é esse orgulho que transcende. Não é mais a Vereadora, foram os 33 Vereadores, por unanimidade nesta Casa, aprovaram esta homenagem, e escapou de nós. E agora ele passa ser imortal entre nós. Não há mais como escapar, agora tu és de todos, e tu vais estar aqui todos os dias sentado conosco para nos inspirar, porque isso aqui, de vez em quando, é uma sacanagem, é uma loucura! Vocês sabem disso. Quando as pessoas dizem assim: puxa, mas vocês só fazem homenagens! Há como não homenagear pessoas que aqui estão? Não há. Seria um pecado, seria um crime capital não fazer uma homenagem ao Zé Victor. E eu quero encerrar esta fala meio chata, mas verdadeira, que, quando homenageamos Chico Buarque, dizia um amigo assim: uma fala do útero, uma fala do coração, uma fala da emoção, uma fala que transcende a razão.

Zé, bem antes das minisséries famosas, para nós, tu já eras famoso; bem antes.

E neste momento eu gostaria de solicitar que viesse até aqui o Oscar Simch, quebrando o protocolo desta Casa, para que fizesse uma pequena homenagem e uma homenagem surpresa também para ti, Zé. Uma forma de carinho, expressando o amor de todos os teus amigos que aqui estão. Zé, nunca esqueças disto: nunca deixes de ser o que tu és, porque tu proclamas a liberdade, tu passas por cima do protocolo, tu vives a nossa essência, e isso é sagrado, e é por isso que tu estás sendo homenageado. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Sr. Oscar Simch está com a palavra.

 

O SR. OSCAR SIMCH: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores, senhoras e senhores familiares, amigos, é uma grande honra estar aqui nesta tarde e eu gostaria de dizer, iniciando este rápido pronunciamento, que eu estou aqui, neste momento, “matando dois coelhos com uma só 'caixa d'água'" . Eu estou realizando um desejo da minha infância. Um desejo que eu trouxe desde muito jovem, que era o de subir numa tribuna parlamentar como estou neste momento, diante das senhoras e dos senhores, fazendo um pronunciamento de peito aberto. E gostaria de dizer, também, que me sinto absolutamente maravilhado por estar, neste momento, realizando esse desejo infantil e, precisamente, no momento em que o meu amigo do peito, o meu grande e querido colega, quase meu irmão, está sendo homenageado.

Eu não poderia deixar de realizar, neste momento tão especial da minha existência, de forma quase mágica, dois desejos tão preciosos que eu trouxe da minha mais tenra idade, de estar aqui e prestar esta homenagem ao meu querido amigo José Victor.

Senhoras e senhores, meu querido José Victor, tu sabes a honra, tu sabes o quanto eu tenho admiração por ti, o quanto eu tenho de irmandade, o quanto eu tenho de emoção neste momento maravilhoso que eu estou aqui para te trazer essa linda melodia que vou interpretar muito rapidamente.

E, antes de interpretar, eu quero dizer que estou muito emocionado e quero agradecer ao Sr. Presidente, aos Srs. Vereadores e às Sras. Vereadoras pela oportunidade de estar aqui e dizer do mais profundo do meu coração, muitíssimo obrigado. Zé... (Canta.). Um grande beijo, querido. Tchau, tchau! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra e falará em nome do PDT.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Exmo. Sr. Presidente, Ver. João Antonio Dib, Srs. Vereadores e Sras. Vereadoras (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Passas, a partir de hoje, a fazer parte desse sodalício, Zé Victor. Sodalício é uma palavra do contexto jurídico. Quero saudar também os teus filhos, que estão aqui, e a tua esposa. Quero saudar especialmente a autora desta iniciativa, a nossa colega de Legislativo, Ver.ª Maristela Maffei, que teve a sensibilidade de indicar a ti, porto-alegrense da cepa, à condição de Cidadão Emérito de Porto Alegre.

Eu gostaria de explicar como é que nós homenageamos os nossos porto-alegrenses. Existem dois títulos fundamentais: o Título de Cidadão de Porto Alegre e de Cidadão Emérito de Porto Alegre. Com o Título de Cidadão de Porto Alegre se homenageia aquele que não é porto-alegrense, que vem de outras plagas, que é o caso do Dr. Geraldo Stédile, que está presente, que é de Caxias do Sul e foi importado para Porto Alegre e é Cidadão de Porto Alegre. Nós não poderíamos te conceder o Título de Cidadão de Porto Alegre, porque tu já és porto-alegrense. Então, tu és o supercidadão, porque conquistas a condição de Cidadão Emérito de Porto Alegre.

Nós temos algumas coisas em comum, primeiramente a condição de nossas etnias, a condição de porto-alegrenses oriundos da comunidade judaica - tu da estirpe do Sefaradin, certamente descendente de nobres da Península Ibérica, oriundos lá do Império Otomano, e eu lá da Europa Oriental, descendente da primeira geração de imigrantes que para cá vieram vítimas da tragédia que se abateu na comunidade por ocasião da 2ª Guerra Mundial. Então pautamos a lembrança disso.

E como é importante te homenagear, Zé Victor, e aqui, com propriedade, porque nós sabemos, mesmo com o talento dos nossos artistas e dos nossos atores, como é difícil vencer no espaço cultural brasileiro.

Recentemente tivemos a glória do Bom Fim, tendo sido o Moacyr Scliar indicado à Academia Brasileira de Letras. E nos sentimos, hoje - todos lá do Bom Fim -, na Academia Brasileira de Letras, por intermédio do Moacyr Scliar.

A comunidade judaica passou pelo Bom Fim e pelo Centro da Cidade; os Castiel são típicos do Centro da Cidade, aliás, os judeus Sefaradin, quando aqui vieram, na década de 20, 30, foram morar no Centro da Cidade.

A minha ligação, sobretudo com os Castiel é muito intensa, na medida em que tive um grande mestre, teu parente, um sujeito dos mais lúcidos e talentosos que eu conheci - uma pena que não se dedicou à política, pois tinha raro brilho -, o Nissin Castiel; sei que ele mora, hoje, em São Paulo, é engenheiro químico, e bem sucedido na sua atividade.

Mas que orgulho!

Nós, aqui, de certa maneira, representamos um pouco da vida e das inquietudes das pessoas. Certa feita, fiz uma única peça de teatro, e tive a honra, Zé Victor, de ser dirigido por um ator com quem tu trabalhaste, o Oduvaldo Viana Filho, na década de 60, época do Teatro de Equipe, numa peça em homenagem a uma história com a qual hoje já não estou mais de acordo, Ver.ª Maristela Maffei; o nome da peça era Pátria ou Muerte, uma peça do Vianinha, do Oduvaldo, que foi dirigida pelo Oduvaldo, que estava aqui, e pelo Chico de Assis; e eu e o Marcos Ferman, o Marcão - que também era uma outra figura extraordinária da nossa comunidade -, interpretamos ali a peça, com outras figuras e dirigidos inclusive pelo Mário de Almeida. E na época também presente todo esse extraordinário cenário do Mário de Almeida, da Lara de Lemos, que é uma herança extraordinária, da Moema e de outros tantos, da extraordinária cultura teatral da nossa Cidade e do nosso Estado. E tu és um homem que dá essa continuidade. E sendo uma pessoa nossa, do nosso cotidiano, porque tu fazes questão de manter Porto Alegre como eixo da tua vida, embora sejas um ator global que nos orgulhamos de assistir - não é, Ver.ª Maristela Maffei? -, nos orgulhamos por te assistir nas novelas da Globo, ora na minissérie, sendo Chico Mascate - personagem tão bem interpretado -, nós também te sentimos no cotidiano, quando nos encontramos ali comendo um farroupilha. Nós somos do tempo do farroupilha, do farroupilha e do bauru. O bauru era com bife - não é Geraldo? -, com alface, queijo, e tomate - esse era o bauru. O farroupilha era o queijo e mortadela com pão cervejinha. Só que melhoramos um pouco, porque daí passamos para o presunto. Mas nós continuamos freqüentando esses lugares. Nós vamos à Lancheria do Parque, que saiu até na Vejinha, na última Vejinha, como um dos melhores lugares, bons e baratos.

Eu fiz essas evocações porque muito tem a ver conosco toda essa história, e tu és um intérprete dela no teu cotidiano, na tua vida, porque tu cantas a tua aldeia e tu és universal. Parabéns pela tua condição de Cidadão Emérito de Porto Alegre, Zé Victor! (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra e falará em nome do PSDB.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Estou lendo O Imaginário das Cidades, da nossa professora de História da PUC, Sandra Pesavento, para ver se entendo um pouco dessa insustentável leveza do ser que nos faz transitar por megalópoles e aldeias com a mesma naturalidade, sem perder de vista a inserção nos contextos e a época - tempo - que temos tido o privilégio de viver. E é esse imaginário das cidades que buscamos nos movimentos que já foram antigos e que tu fizestes.

Às vezes, te confesso, sinto-me um ator. Um ator representa com a gestualística, com a linguagem e com a lingüística, com o texto, conduzido por um diretor, palco, cenário, bastidores, coxias, camarins... Em suma, o ator representa. Representa para uma platéia real, com reduzido número de cadeiras ou uma platéia eletrônica, como fenômeno de massa.

Nós, políticos, também temos a nossa gestualística, nós temos uma linguagem discursiva, conduzidos por um diretor invisível, abstrato, que poderíamos caracterizar como sendo a ideologia. Da tribuna, galerias, bastidores e gabinetes falamos para uma população exigente, diferenciada, população essa que devemos satisfação; pois, se representamos, o fazemos pela procuração do voto.

Quando falamos em Porto Alegre exigente, falamos na população desta Cidade, onde há uma profunda reciprocidade entre povo e o político, o que aumenta, em muito, a nossa responsabilidade e o cuidado de evitar frustrações que poderão ser catastróficas a interesses pessoais e partidários. Do político é exigido o máximo, ser modelo, paradigma, líder, ter votos. Ah! O milagre da obtenção dos votos! Por ter essa procuração, somos obrigados, também, a representar. Sim, o político representa o seu eleitorado, o seu Partido, mas, muito especialmente, representa a mais autêntica identidade do político: a identidade consigo mesmo.

O ator tem um compromisso de representar o texto e suas variações emocionais; o político representa, também, suas emoções, comunica-se e constrói por meio da palavra, do discurso, da ideologia e, por fim, do Poder.

Mas se o político liga seu desempenho a poderes constituídos, o artista, ao representar, consegue mudar o curso do pensamento coletivo, porque o artista nos faz pensar. Faz-me pensar desde os teus primeiros ensaios, desde O Marido do Doutor Pompeu, de Luis Fernando Veríssimo, até o teu desempenho nas novelas da Globo, saindo de um público fechado, da Casa de Cultura Mário Quintana, para a rede, a famigerada rede eletrônica televisiva das noites caseiras daquele quadradinho do imaginário nacional.

E se somos políticos, somos representantes e constituímos um Poder; artistas, atores, somos representantes e constituímos e exercemos um fantástico poder coercitivo, convincente e transformador.

E é nessa identidade projetiva, que eu me coloco, muitas vezes, em teu lugar e penso. Penso filosoficamente ou esqueço as rédeas do livre pensar. Chovem perguntas: como se eleger? - do político que se metamorfoseia em como vencer num meio maior do político. Traduzindo: como passar de Poderes aldeões, citadinos, estaduais, para Poderes da União; um poder nacional de persuasão no texto do autor, na formatação do diretor, ou no talento carismático do ator.

O que é leve, o que é insustentável pela leveza é essa abstração do pensamento que se solidifica em mudanças sociais. É o milagre da interpretação. É a magia da representação.

Quantas vezes representaste as nossas impotências, as nossas frustrações coletivas? Quantas vezes representaste um personagem histórico de Letícia Wierczowski? A bonomia, a dedicação e a simplicidade de pequenas, mas definitivas participações?

É evidente que seu eu contar para essa platéia e para o João Victor que já foste um excelente ponteiro de futebol, nas peladas do campo suplementar do Beira-Rio, com o Paulo Rogério, com o Pedro Paulo, com o Luiz Fernando Záchia, com o Paulo Weinberg - grande escritor -, esse goleiro - locutor que vos fala, chamariam-nos, imediatamente, de ficcionistas. E mais não somos porque passamos o tempo mudando. O destino nos mudando. Nós, tentando modelá-lo ao mais individualista dos alvitres.

Eu, de um bloco cirúrgico fechado para a representação política. Tu, de um escritório fechado, sisudo, de advocacia, para a representação teatral. Ambas importantes, profundamente pessoais, ligadas às profundas alterações que necessitamos na tessitura de uma sociedade melhor, menos injusta, sem as aberrações constituídas pelas deficiências que impedem o preenchimento de nossas mais primitivas necessidades e que nos envergonham. E que nos infelicitam, vítimas e circunstantes.

É isto aí, Zé Victor. E nossa Cidade vai aos poucos descobrindo, descobrindo em fenômenos incríveis, de descobertas encantadoras. E, se há muito tempo já te descobriu, só hoje faz contigo o primeiro encontro como seu cidadão. De um longo namoro a uma conjunção definitiva. E as calçadas te conduzem, hoje, a partir de hoje, como se fosse inexistente à gravidade, como se a gravidade fosse uma condecoração individual. A leveza que te falava no início, a leveza do ar, da aragem e de um certo friozinho que há nas esquinas das noites de verão estrelado, onde a cada estrela do céu corresponde, cá nas ruas, a uma réplica, outra estrela - tu -, que ora se ofusca, ora brilha com a intensidade e o fulgor dos bem-aventurados. É esta Cidade que se enfeita para te receber. Olha para os seus jacarandás, ipês nas cores roxo e amarela, escuta o canto dos sabiás nesse espetáculo magnífico da primavera. Podes ter certeza, esse luxuriante colorido, os sons da orquestra de pássaros nada têm a ver com o cio da natureza, com a alegria das manhãs. Porto Alegre está assim, linda, preconcebidamente voluptuosa e receptiva, atraentemente preparada para a indisfarçável felicidade de receber o mais novo dos seus eméritos cidadãos, o grande ator brasileiro, mas, principalmente, o gigantesco ser humano que é José Victor Castiel. Corre para o abraço, meu ponteiro! Por mais essa conquista, a conquista de uma Cidade inteira que te adota, que te afaga e por isso se ilumina de felicidade. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): A Ver.ª Margarete Moraes está com a palavra e falará em nome do Partido dos Trabalhadores.

 

A SRA. MARGARETE MORAES: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Depois da homenagem que nós fizemos, às 15h de hoje, ao professor e dramaturgo Ivo Bender, que, merecidamente, recebeu o Prêmio Literário Érico Veríssimo em plena primavera da Feira do Livro, chega a voz e a vez do ator, daquela figura que dá vida, que é protagonista e que encarna o personagem.

Neste momento, estamos homenageando e conferindo o Prêmio de Cidadão Emérito, a mais alta distinção da Câmara de Vereadores, por uma muito feliz idéia da Ver.ª Maristela Maffei, a esta figura que é plenamente identificada com o mundo das artes cênicas e que, em qualquer de seus aspectos, em qualquer desse exercício, realiza com grande talento e com grande seriedade.

Zé Victor já é um homem reconhecido por sua capacidade de diretor, de produtor, de divulgador, de escritor, transitando, também, muito à vontade, por vários veículos e expressões, por várias linguagens, quais sejam a TV, o cinema, o vídeo, e, no meu ponto de vista, acredito que é no teatro que encontra a sua plena realização como artista.

O Ver. Isaac Ainhorn fez algumas evocações, e nós poderíamos, rapidamente, dizer que, desde 1984, também com a peça do Oduvaldo Viana Filho – o Vianinha – quando encenou Rasga Coração, que contou com a direção de Néstor Monastério, que também prestigia este momento, e eu acredito que seja um momento marcante por ser o início na trajetória do Zé Victor. Nós falávamos em Érico Veríssimo hoje, e esta Casa está iluminada porque contamos com a figura do Luis Fernando Veríssimo na homenagem ao Ivo Bender, e aí nós podemos lembrar, querida Mirna, de 1997, com O Marido do Dr. Pompeu, que eu tive oportunidade de assistir em projetos de integração e intercâmbio da Secretaria Municipal da Cultura, em Buenos Aires, em Montevidéu, e feliz em perceber os aplausos que o nosso teatro recolheu nessas cidades vizinhas. Em O Marido do Dr. Pompeu, o Zé Victor encarna o próprio Luis Fernando Veríssimo, e a gente sabe que ele não resistiu, não conseguiu se ver nesse espelho e não assistiu à peça - era demais para ele -, mas foi prestigiado por toda família, certamente.

Zé Victor surpreendeu o Brasil, muito depois, dirigido por Guel Arraes e Jorge Furtado em Dóris para Maiores, em Incidente em Antares - e aí volta o Érico Veríssimo mais uma vez -, e recentemente ele é um ator de reconhecimento nacional por meio de A Casa das Sete Mulheres.

Os bastidores do teatro, aquilo que não está em cena, é trabalhado por Zé Victor em seus livros, poderia citar A Morte do Clóvis e Outras Historinhas de Teatro, enfim, ele tem um currículo invejável, seria muito cansativo se procedêssemos toda essa nomeação neste momento.

Portanto, eu queria fazer, agora, uma reflexão sobre uma idéia que surge no Brasil de hoje, que é essa idéia do Presidente Lula, acabar com a fome, e dizer que é uma necessidade imperiosa acabar com a fome física através de cestas básicas, mas nós, também, gostaríamos de nos referir, Ver. Reginaldo Pujol, à fome de cultura, à fome de arte, à fome de informação, em condições mínimas essenciais para que a maioria das pessoas compreenda e amplie a própria condição humana. E esse combate à exclusão também passa pela inclusão da arte e da cultura, e supõe a possibilidade de que todas as pessoas possam olhar para dentro, reconhecer as próprias emoções, olhar para o lado, porque, assim, vão ampliar a sua visão perante a vida, as suas concepções de mundo, em suas misérias, em suas grandezas; para que todas as pessoas possam compreender e buscar aquilo que é bem, que é bom, que é o belo, e possam exercer também os valores da tolerância.

Quando eu fui titular da Secretaria da Cultura - queria homenagear o Beto Rodrigues, que foi meu colega naquela época, coordenador de cinema, vídeo e fotografia -, nós constituímos esse projeto de integração e de intercâmbio. Fomos atrás dos bons ares de Buenos Aires, de Montevidéu e também fomos, André, a Sanary, no Sul da França, constituindo o conceito de que era importante que as pessoas se conhecessem, que os povos se conhecessem, e nós dizíamos, por baixo, olho no olho, com um foco muito aguçado, um jeito singular e único de ser e de estar no mundo. Porque nós compreendemos, naquela época, algo básico: que quem representa uma comunidade, um povo, uma nação, não é o Prefeito, não é a Secretária da Cultura; quem representa são os seus artistas. Quem representa a alma poética, os dramas, as emoções, as quimeras de uma comunidade, são os seus artistas, que são os criadores. E nesse projeto, os artistas de Porto Alegre foram absolutamente parceiros dessa idéia. E se nós estamos falando em signos e símbolos, naquilo que é único, que é irrepetível, que é singular, nós estamos falando em algo que nos diferencia, que é a nossa identidade peculiar. E se falamos em identidade, lembramos de José Victor Castiel, que tem um currículo de militante da cultura, tem reconhecimento nacional. Mas para nós o mais importante é que tu és nosso, Zé Victor, tu és plenamente identificado com Porto Alegre, identificado com o Rio Grande do Sul, e nós temos muito orgulho de ti. Portanto, neste momento, eu quero cumprimentar o José Victor, pela merecida homenagem e cumprimentar, mais uma vez, a minha querida amiga e companheira Maristela Maffei, que teve a felicidade, a sensibilidade de oferecer uma Comenda a Chico Buarque de Holanda e a José Victor Castiel. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra e falará em nome do seu Partido, o PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Alguns colegas, meu caro Castiel, ironizando a minha antigüidade na Casa e a minha antigüidade no tempo, costumam dizer que eu sempre consigo, nessas homenagens, buscar alguma coisa no passado que me estabeleça algum vínculo com o homenageado. Realmente, a Ver.ª Maristela Maffei não poderia estar mais feliz do que está no dia de hoje; além de prestar uma grande homenagem, uma justa homenagem, foi gratificada com essa manifestação maravilhosa da nossa colega Ver.ª Margarete Moraes. Mas tudo isso não resolveu o meu impasse. Eu tenho de buscar os elos, os vínculos que justifiquem essa minha ousadia de vir à tribuna, depois dos belos pronunciamentos que aqui já ocorreram.

Minha dificuldade aumenta. Primeiro, estou falando para um colorado e eu sou um orgulhoso “lanterninha” do campeonato brasileiro, de coração; falo para um homem do PT e eu sou um Liberal. Mas onde estão os vínculos, então? Onde está a razão? Bom, como liberal, eu diria o seguinte: nós, os liberais, não poupamos esforços, não perdemos oportunidades de enaltecer aqueles que têm sucesso nas coisas que fazem. E eu, pessoalmente, tenho um apreço muito grande pelas pessoas que realizam as suas atividades com dedicação, com afinco, com entusiasmo e com o coração.

Eu tenho alguma coisa em comum com o nosso homenageado. Tenho, sim. Eu me lembro de um escritório de advocacia ali na Av. Iguaçu, lembro-me do teu trabalho como Advogado na defesa dos teus colegas, da luta pelos direitos autorais. Eu me lembro bem disso. Aliás, a Globo nos roubou, Maristela, um valoroso profissional, um valoroso operador da área do Direito, que, com muito garra, com o mesmo denodo que hoje vive os seus papéis no teatro, com a mesma disposição férrea, com a mesma sinceridade com que exerce seus papéis, exercia, nos pretórios, nas lides jurídicas, nos diálogos duros, um papel importante na defesa dos seus constituintes. A partir de um determinado tempo, se não me engano com a peça Édipo Rei, eu vi que o meu colega advogado era um grande ator, excelente ator, que não passou despercebido por aqueles que, fora do Estado do Rio Grande do Sul, têm o comando da mídia nacional. Infelizmente, para nós que reconhecemos a tua capacidade de trabalho, tu foste divulgado para este Brasil todo pelos teus excelentes trabalhos nas grandes novelas nacionais, que servem de plataforma para destacar aqueles profissionais de qualidade que atuam nesse segmento. E tu foste mascateando como podias e levando o teu trabalho ao reconhecimento de todos.

Hoje, a Ver.ª Maristela Maffei, com a sua sensibilidade, oportuniza que esta Casa te outorgue a cidadania emérita de Porto Alegre, cidadania essa que só é concedida àqueles homens e mulheres que, nascidos em Porto Alegre, ganharam um destaque de tal ordem que justificam essa honraria. O título de Cidadão de Porto Alegre é uma honraria oferecida àqueles que não nasceram nesta Cidade, como cidadania honorária; para aqueles que aqui nasceram e que se fazem merecedores, a honraria é oferecida na figura do Cidadão Emérito.

Meu caro "Viriato" - tu és um homem de muitos nomes - é Cidadão Emérito de Porto Alegre a partir de hoje, de fato e de direito, porque, de fato, tu já o eras, mas a Ver.ª Maristela Maffei quis estabelecer juridicidade ao fato já existente, propondo, num momento de inspiração comum a essa talentosa Vereadora, esta homenagem que hoje nós estamos consumando por inteiro. Quero, honestamente, saudar a esse "coloradão", a esse homem do PT, que continue mascateando pela vida e fazendo o sucesso que tem feito até o presente momento, porque isso vai fazer com que os seus conterrâneos, aqui na nossa leal e valorosa Porto Alegre, continuem aplaudindo e torcendo a favor dele. Sucesso é o que um liberal lhe deseja! (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

 O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Registro a presença do Ver. Pedro Américo Leal.

Meu caro Zé Victor Castiel, eu entendo que o maior Título que esta Câmara outorga é o de Cidadão Emérito. Emérito é insigne e, portanto, é realmente o maior. O Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários, um dia, foi Vereador nesta Cidade e hoje é Cidadão Emérito; o amigo Zé Victor Castiel hoje é Cidadão Emérito e amanhã poderá ser Vereador desta Cidade, para a alegria de todos nós.

Mas, Zé Victor Castiel, ninguém ganha Título sozinho, e é por isso que eu convido, neste momento, a Alice, tua filha, o João Pedro e a Cecy, estes são o teu melhor auditório, podem dizer tudo o quanto quiserem, mas auditório melhor do que este não tem. Por favor, venham, juntamente com a Ver.ª Maristela Maffei, para fazer a entrega do Diploma de Cidadão Emérito ao nosso querido homenageado.

 

(Procede-se à entrega do Diploma.) (Palmas.)

 

O Zé Victor está com a palavra, quem sabe, para um treino como futuro Vereador.

 

O SR. JOSÉ VÍCTOR CIBELLI CASTIEL: Excelentíssimo Ver. João Antonio Dib, digníssimo Presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre; Exma. Sra. Maristela Maffei, na pessoa de quem saúdo a todos os demais eminentes Vereadores desta Casa; autoridades presentes, amigos, colegas, familiares, meus senhores e minhas senhoras, minha tendência, a priori – quem me conhece sabe -, é de achar que não sou merecedor de tamanha distinção.

Quando fui comunicado pela Cecy, do Gabinete da Ver.ª Maristela Maffei, dessa distinção a mim outorgada, minha reação foi de muita emoção. Sempre dei valor a esse tipo de reconhecimento. Sinto-me profundamente agradecido à Casa, não só pelo Título ora outorgado, mas, principalmente, por tornar mais explícito e agora totalmente oficial o incomensurável amor que eu nutro pela nossa Cidade.

Tenham certeza de que nada e nem ninguém conseguiria fazer com que eu deixasse minha Cidade em nome de uma carreira nacional. Persegui, ao longo dos últimos 20 anos, o sonho de poder exercer a minha profissão de ator com a dignidade de quem não é obrigado a abandonar os seus amigos, seus afetos, seus lugares, sua vida, enfim.

Hoje sou um profissional do mundo sem, em momento algum, questionar a minha naturalidade. Eu sou Zé Victor Castiel, nascido, criado, residente e domiciliado na cidade mais gostosa do planeta. Ser Cidadão Emérito desta Cidade me enche de orgulho e emoção.

Encerro agradecendo, mas acho que eu devo fazê-lo de uma forma muito completa.

Sou um cara que veio ao mundo para fazer amigos. Eu gosto disso, vivo para isso. E eu não poderia deixar de, neste momento, partilhar, mesmo que de forma singela, com as pessoas que me são mais caras.

Primeiramente, eu agradeço à Ver.ª Maristela Maffei e à Sra. Cecy Motta, sua colaboradora, pela lembrança. Agradeço muito a esta Casa por ter, tão generosamente, aprovado a minha indicação.

Ao Ronaldo, Jacquinho, Sérgio Amon, Sérgio Stifelman, Juca, Miltinho, Ciso, Júlio, Flávio, Paulo Alberto, Serginho Sartori, Sadi, Wilson, Lelo, Catatau e demais moleques da Rua São Vicente que, além de me fazerem companhia para buscar o pão do café da tarde na Padaria Cruzeiro, viveram, junto comigo, a melhor infância que uma criança pode querer: com taco, bola de gude, funda, futebol de rua e muito, mas muito joelho ralado.

Ao Celso Ferreira, José Ricardo Souza, Magrão, Samuel, Eda, Lígia, Cristina, Erica, Joca, Betina, Jorge Herrman e todos os colegas do velho Colégio Farroupilha que ajudaram, por meio do teatro estudantil, a tornar a arte cênica uma coisa muito séria na minha vida.

Ao Sílvio e Dario Axelrud, Renato Sirotsky, Flávio Lembert, Flávio Heiller, Cuca, Mário Weiss, Maurício Estrougo, Sérgio Aguinski, Sidnei Stifelman, Henri e Ed Goldfeld, Renato Dorfman, Sérgio Sandler, André Loiferman e todos os colegas do Colégio Israelita, do futebol do Círculo e de Atlântida, porque são amigos velhos de guerra, caras que cheiram a Porto Alegre, que estão e sempre estarão comigo.

Ao Marco Antônio e João Armando Campos, André Leite, Nei Alberto, Mário Macedo e demais colegas da Faculdade de Direito. Advogar, nunca advoguei direito, sem trocadilho, Sr. Presidente, mas eu fazia o maior teatro.

Ao Paulo Rogério Amoretty, ao Paulo e Arthur Wainberg e Roberto Wofchuk, grandes amigos que tentaram, com muito carinho, me ensinar a ser um advogado. Desculpem se eu os desapontei, mas tribunal não tem palco.

Ao Néstor Monastério, Júlio Conte, Dilmar Messias, Fábio Barreto, Henrique de Freitas Lima, Gilberto Perin, Jorge Furtado, Carlos Gerbase, Paulo Nascimento, Ricardo Wadinghton, Luís Fernando Carvalho, Jayme Monjardim, e demais amigos que me dirigiram no teatro, cinema ou na televisão, por terem me proporcionado a fazer profissionalmente a única coisa de que gosto realmente: atuar.

A Pilly Calvin, Cláudia Meneghetti, Betho Mônaco, Antônio Carlos Falcão, Luís Emilio Strassburger e Carlos Couto, por terem me mostrado o caminho da verdadeira comédia e por terem me ensinado aquilo que mais acredito em teatro, de que ele foi feito para o público e não para os amigos.

Ao Geraldo Lopes e Carlos Conrath por terem ensinado que produzir cultura é coisa séria, mas não precisa ser sisuda.

Aos meios de comunicação um agradecimento especial. Com efeito, se nos últimos 20 anos não tivéssemos, eu e meus companheiros, a simpatia e o respaldo dos profissionais de imprensa, certamente não estaríamos neste estágio cultural competitivo, o que faz da nossa Cidade o grande centro que é.

Particularmente, agradeço à RBS e todos os seus veículos e faço representante destes agradecimentos ao amigo Nelson Sirotsky, que nunca me autorizou que divulgasse o que vou contar agora, passados quase 10 anos: quando fui chamado para integrar o elenco principal da minissérie Incidente de Antares, foi exigência da TV Globo de que eu deveria permanecer no Rio de Janeiro como se lá residisse. Não tinha escolha: ou me mudava ou perdia a oportunidade de efetivamente iniciar uma carreira em nível nacional. Recorri à querida Alice Urbim e, por ordem do Nelson, passei seis meses indo e voltando para o Rio, com hospedagem, alimentação e transporte por conta da RBS. Na volta procurei o Nelson para dizer que estava pronto para retribuir. Até hoje estou, como um soldado, aguardando ordens. Nunca me foi exigido absolutamente nada. Ao contrário, continuam me apoiando em todos os projetos sejam eles de teatro, cinema ou televisão. Lembro aqui, com carinho também, os nomes de Afonso Motta, Raul Costa Júnior e Armindo Ranzolim.

Ao Rogério Beretta, que teve a idéia do Porto Verão Alegre, idéia esta que casou como uma luva com a minha convicção de que tínhamos que parar de falar mal uns dos outros e partir para um teatro gaúcho forte, profissional, rentável e competitivo com os demais grandes centros culturais do País.

Ao Flávio Bicca que é o cara que se juntou a nós nesta louca empreitada de levar milhares de porto-alegrenses aos teatros de Porto Alegre nos meses que antes eram considerados mortos para cultura: janeiro e fevereiro.

Ao querido irmão Oscar Simch, maior ator deste Estado, na minha opinião, e depois da palhaçada que fez aqui, o maior cara-de-pau também, tem sido o meu inseparável comparsa – no bom sentido, é claro –, já fizemos de tudo o que vocês podem imaginar, até Gre-Nal de cachorrinho amestrado, mas estamos juntos. Não é cara?

À Dona Yeda, minha mãe, que me paparicou tanto, que me transformou num artista, Sr. Presidente. Aos meus irmãos Lúcia e Marquinhos, que adoram Porto Alegre tanto quanto eu. À minha mulher Sissi, grande companheira; muito obrigado por não ter mandado me internar quando eu te comuniquei que eu estava largando a advocacia para virar um ator. Obrigado, do fundo do meu coração. Aos meus sogros João Baptista Vigil e Thereza Nápoli, que sempre vibram comigo. Aos amigos Carlos Henrique Horn, Márcia Motta, Marcelo Santana, Janice Castro, Zanza Pereira, Evandro Velpi, Simone Paulon, que participam de minha vida como se de minha família fossem, e sempre aqui em Porto Alegre. Aos meus filhos Alice e João Victor, grandes figurinhas, que encaram qualquer bronca comigo e só me dão alegria e satisfação.

Finalmente, eu agradeço e compartilho essa imensa alegria que estou vivendo hoje com as centenas de artistas de Porto Alegre, Cidade amada, que, como eu, descobriram que não devemos ir embora daqui para sermos felizes. Orgulho-me de pertencer à primeira geração de artistas gaúchos que não foi obrigada a, violentamente, abandonar aquele cheirinho de churrasco nos ares de domingo - coisa que não existe em nenhuma outra Cidade do mundo - para exercer, com dignidade, sua profissão. Estou muito feliz. Viva os artistas de Porto Alegre! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Nos encaminhamos para o final desta Sessão Solene, mas, sem dúvida nenhuma, muito fraterna. Nós agradecemos a todos aqueles que viabilizaram esta Sessão, Vereadores que aqui estiveram presentes, Vereadores que votaram por unanimidade a homenagem que ora se presta. Agradecemos pela presença de cada um dos senhores, especialmente à mãe do nosso homenageado, e agradecendo a ela, agradecemos aos familiares todos, e, como eu disse, ninguém recebe um prêmio sozinho. A Senhora ajudou muito, e o Victor, meu colega na Química, também deve ter inspirado essa figura extraordinária. Agradeço mais uma vez a presença de todos. Neste momento, convidamos todos os presentes a ouvirmos os Hino Rio-Grandense.

 

(Ouve-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h23min.)

 

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